Veja o que aconteceu com os chefões do tráfico do Estado do Rio

 Prisão de Rogério 157 foi a mais recente envolvendo liderança do crime organizado

Rogério 157, um um dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro, foi preso na comunidade do Arará, na Zona Norte do Rio - Fabiano Rocha / Agência O Globo 

RIO - A prisão nesta quarta-feira de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157 , que ocupava o posto de chefe do tráfico na Rocinha, na Zona Sul do Rio, e foi pivô de uma guerra que colocou a comunidade no fogo cruzado entre facções rivais - uma delas ligada ao antigo líder do crime organizado na comunidade, o Nem da Rocinha -, é o mais recente episódio em que a polícia consegue localizar e colocar atrás das grades um nome de grande expressão do tráfico de drogas do Rio. No entanto, muitos outros chefões já ocuparam o posto e, de certa fora, o “status” de criminoso mais procurado do Rio. Conheça a história e o o destino de alguns deles:
  • Fernandinho Beira-Mar
  • Marcinho VP
  • Celsinho da Vila Vintém
  • Elias Maluco
  • Nem da Rocinha 

Rogério 157 ouça o texto:

 

Fernandinho Beira-Mar

Fernandinho Beira-Mar é um dos 81 presos nascidos no Rio que estão em penitenciárias da União - Fernando Quevedo / Agência O Globo 13/05/2015

 

Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho Beira-Mar, é considerado um dos maiores traficantes de armas e drogas da América Latina. Apontado como um dos maiores chefes da história da facção Comando Vermelho e natural da favela Beira-Mar, no município de Duque de Caxias, na Baixada, ele começou a vender drogas antes dos 20 anos de idade, e hoje é um dos principais criminosos do estado.

A ascensão de Beira-Mar ocorreu entre o início e meados dos anos 1990, quando abriu canais próprios de distribuição de drogas e conquistou morros como Borel, Rocinha, Chapéu Mangueira e Vidigal. Preso em 1996, não ficou nem um ano no presídio de Belo Horizonte. Agentes penitenciários foram acusados de ter facilitado a fuga dele.

Beira-Mar montou um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro no maior banco federal estatal do país e teria morado no Paraguai, Uruguai, Bolívia e Colômbia, onde se aliou às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Foi recapturado pelo exército colombiano, em atuação conjunta com agentes norte-americanos e repatriado para o Brasil em abril de 2001. Na época, era apontado como responsável por 70% das remessas da cocaína distribuída no país.

Em 2002, preso em Bangu I, ele organizou rebelião com a finalidade de matar Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, e outras lideranças de uma facção criminosa rival. Passou pelos presídios de Catanduvas (PR), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO), e atualmente está na unidade prisional de Mossoró (RN). Em outubro, o ministro do STF Alexandre de Moraes negou a volta de Fernandinho Beira-Mar e de outros chefes do tráfico para presídios do Rio .


Fernandinho Beira-Mar ouça o texto:


Marcinho VP

O traficante Marcinho VP é um dos presos federais que podem voltar ao Rio - Agência O Globo


Nascido em Vigário Geral e criado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, é outro chefe histórico do Comando Vermelho e apontado como chefe do tráfico no Complexo do Alemão, mesmo estando atrás das grades desde 1996. Condenado a 44 anos de prisão - 10 por tráfico e outros 34 por mandar matar duas pessoas, crimes que ele nega, o traficante foi transferido para o sistema prisional federal em 2007, onde permanece desde então. É apontado pela polícia como um dos mandantes da pela morte de Márcio Amaro de Oliveira, chefe do tráfico no Morro Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul, e que também adotava o apelido de Marcinho VP. Márcio Amaro foi morto por estrangulamento no presídio de Bangu III, em 2008. A suspeita é que Márcio Nepomuceno não estaria gostando das entrevistas que o antigo comparsa dava relatando detalhes do funcionamento do tráfico no Rio

Nste ano, Marcinho VP revelou em livro que ajudou o ex-governador Sérgio Cabral na campanha de 1996 - quando o então deputado presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) disputou o cargo de prefeito e perdeu. No texto, um manuscrito a que o EXTRA teve acesso com exclusividade , o traficante conta que a equipe de Cabral pediu o apoio dele no Complexo do Alemão e que o ex-governador esteve com ele durante uma hora num camarote na favela durante um show do Molejo. A defesa do governador nega o encontro.

O traficante, no entanto, considera que sua transferência para o sistema penal federal, em 2007, foi uma decisão de Cabral. Ele está há 10 anos nos presídios de segurança máxima. Marcinho chama o ex-governador de “ladrão” e “traidor”. Atualmente, como Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP está na penitenciária federal de Mossoró (RN).


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Celsinho da Vila Vintém 

O traficante Celsinho da Vila Vintém, durante depoimento em julgamento de Fernandinho Beira-Mar - Thiago Freitas / Agência O Globo

Veterano do mundo do crime e um dos fundadores da facção Amigos dos Amigos (ADA), Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém é apontado como uma dos maiores chefes do tráfico na Zona Oeste do Rio. Começou sua vida de delitos promovendo assaltos a caminhões de carga na Avenida Brasil. Em meados dos anos 1990, Celsinho assumiu o controle do tráfico na favela da Vila Vintém, em Padre Miguel, e se tornou um dos nomes mais importantes do Comando Vermelho, quando ainda era conhecido como Celsinho Russo.

Anos mais tarde, criou a facção Amigos dos Amigos. Em 2002, ele implorou por sua própria vida numa rebelião dentro de Bangu 1, quando outro líder de facção, Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, foi assassinado. Na ocasião, prometeu que trocaria de facção para não ser morto pelo bando de Fernandinho, Beira-Mar.

Condenado a mais de 30 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, homicídio, corrupção, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver, Celsinho está encarcerado há mais de 15 anos. Desde 2014, o traficante cumpria pena em presídios federais, mais recentemente na Penitenciária de Porto Velho, em Rondônia, mesmo local onde está Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha.

Atualmente, ele cumpre pena no Complexo de Gericinó, após conseguir na Justiça, em maio deste ano, a transferência do presídio federal de Rondônia para o Rio . De acordo com a investigação da 11ª DP (Rocinha), Celsinho é, ao lado de Nem, um dos mandantes da invasão à Rocinha em setembro deste ano, com o objetivo de retirar de Rogério 157 o controle do tráfico na região. 


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Elias Maluco

Julgamento de Elias Maluco pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, no fórum do Rio - Sérgio Borges

Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, é mais uma dos chefes emblemáticos do Comando Vermelho e já controlou o tráfico de drogas em mais de 30 favelas nos complexos do Alemão e da Penha. Mas, ele ficou conhecido, principalmente após o assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, em 2002. Sua ascensão no mundo do crime, porém, é muito anterior e foi rápida. Em 1995, o criminoso era gerente do tráfico em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio. Com a morte de Flavio Negão, Elias Maluco assumiu o controle do comércio de entorpecentes na região e logo se tornou o homem de confiança de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP do Complexo do Alemão.

Com a prisão de Marcinho VP, em 1996, ele passou a gerenciar a venda de drogas no conjunto de favelas, além de assumir quadrilhas em outras favelas, como as do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, e nos morros do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo, na Zona Sul. Neste período, passou a participar também do tráfico de armas. Já esteve preso sob acusação de sequestro, mas foi solto porque, depois de quatro anos, não havia sentença no processo. Ele foi preso em 1996 pela Divisão Antissequestro (DAS). Em julho de 2000, conseguiu o habeas corpus que garantiu sua liberdade.

Em junho de 2002, Elias Maluco comandou o sequestro, tortura e morte do jornalista Tim Lopes, que fazia, com uma câmera escondida uma reportagem sobre um baile funk realizado na comunidade, onde haveria venda de drogas e exploração sexual de adolescentes. Após uma força-tarefa das polícias Militar e Civil, com um cerco ao Complexo do Alemão, que durou cerca de 50 horas, o criminoso foi capturado. Em maio de 2005, ele foi condenado a 28 anos de prisão pelo crime, no dia 22 de Setembro de 2020 ele foi encontrado morto em sua cela no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

 


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Nem da Rocinha 

Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, ao ser preso, em Novembro do ano passado - Reuters

Ligado à facção Amigos dos Amigos (ADA), Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, voltou aos holofotes devido à acusação de ordenar, de dentro da prisão, a invasão à Favela da Rocinha em Setembro deste ano , com o objetivo de retomar o controle do tráfico após a “traição” de Rogério Avelino dos Santos, o Rogério 157. Antigo segurança pessoal de Nem, Rogério se recusou a entregar o controle da favela , o que deu origem a uma onda de violência na comunidade.

A ascensão de Nem no comando do tráfico da Rocinha ocorreu em outubro de 2005, após a morte de Erismar Rodrigues Moreira, o "Bem-Te-Vi", durante uma operação da Polícia Civil. A partir dali, Nem e João Rafael da Silva, o Joca, braços direitos de Bem-Te-Vi, passaram a controlar a venda de drogas na comunidade. Após a prisão de Joca, Nem assumiu sozinho o comando da Rocinha.

Em janeiro de 2010, Nem chegou a forjar a própria morte, farsa logo descoberta pela polícia . O golpe foi descoberto pela Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). O médico que atestou o óbito do criminoso, Dalton Jorge, acabou preso por falsidade ideológica e associação ao tráfico. Menos de dois anos depois, em novembro de 2011, Nem foi preso escondido no porta-malas do carro de um de seus advogados, na Lagoa, por onde tentava fugir.

Mesmo com a prisão, Nem continuou, nos anos seguintes, sendo o grande líder do comércio de drogas da Rocinha. Em setembro deste ano, com a traição de Rogério 157 e tentativa de retomada do controle do tráfico, ele voltou ao noticiário. Atualmente, está detido na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, de onde ainda dita ordens àqueles que ainda lhe são fiéis. Sua mulher, Danúbia, que teve que fugir da Rocinha após o começo da guerra na comunidade, foi presa pela Polícia Civil em outubro deste ano . 


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