Nasce um criminoso
No coração do subúrbio, em Vaz Lobo, nasceu em 1956, um menino que se tornou um dos bandidos mais famosos do Rio na década de 80.Ironicamente morreu, em 2004, como um empresário dono de uma coopretaiva de táxi: José Carlos do Reis Encina, o "Escadinha". Quando ainda era simplesmente o garoto Zé Carlos, filho do líder comunitário Manoel Encina, o Chileno, ele ganhou o apelido que o acompanhou para o resto da vida. O lugar onde isso aconteceu foi numa barbearia ao pé do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, onde foi criado. Como não parava sossegado na cadeira, o barbeiro errou o corte e criou alguns "degraus" na testa da criança, que logo passou a ser chamado pelos amigos de "Escadinha".
Com 16 anos, o adolescente Escadinha entrou para o mundo do crime e começou a se envolver com o tráfico do Juramento, mas só dois anos depois, em 1974, foi preso pela primeira vez, por porte ilegal de arma. Pagou fiança e foi libertado. Erta o o início de uma máxima que o acompanhou por boa parte de sua vida. A de não ficar atrás das grades por muito tempo. Escadinha foi preso pelo menos mais cinco vezes, em um período de 13 anos, entre a década de 70 e o final da década de 80. A ficha penal do bandido cresceu como uma árvore frondosa: anotações criminais de tráfico, ataques a carro-forte, formação de quadrilha, homicídios e uma série de assaltos se multiplicaram e obrigavam a José Carlos dos Reis Ensina, a vez por outra, dar um "pulinho" na cadeia.
Uma vida e crimes e fugas
Tantas idas e vindas da prisão fizeram Escadinha conhecer companheiros de cárcere como José Carlos Gregório, o Gordo, Rogério Lemgruber, o Bagulhão, William da Silva, o professor, Francisco Viriato e fundar a primeira facção criminosa do Rio de Janeiro. Escadinha ganhou status de traficante mais perigoso do Rio. Ao mesmo tempo recebeu fama de bandido romântico no Juramento. Não permitia assaltos na comunidade e nem abuso contra mulheres. Chegou a dizer em entrevistas, que não permitia que crianças se alistassem no tráfico, comandado por ele próprio . Em contrapartida, também recebia proteção na favela onde foi criado e ganhava ajuda dos moradores para se esconder da polícia. Com uma fuga cinematográfica e algumas tentativas frustadas, Escadinha vira evangélico, artista, muda de vida, saí da cadeia.
A fuga cinematográfica
Depois de passar dois anos seguidos na prisão, em 1983, Escadinha usou um barco a remo para conseguiu fugir da Ilha Grande. A polícia tentou recapturá-lo cercando todos os acessos do Juramento. A operação, além de não dar certo, foi marcada por uma tragédia. Um helicóptero da Polícia Civil caiu e os quatro ocupantes da aeronave acabaram mortos. Em 1985 foi finalmente preso na Favela do Jacarezinho. Meses depois, José Carlos dos Reis Encina tentou fugir e foi baleado. Transferido para o presídio da Ilha Grande, lugar que já conhecia com a palma da mão, o bandido conseguiu, no dia 31 de dezembro de 1985, a mais espetacular de suas fugas. Foi resgatado do presídio por um Helicóptero. Dentro do aparelho estava, além do piloto que foi obrigado a realizar o voo, o parceiro e fundador de uma facção criminosa: José Carlos Gregório, o Gordo. Escadinha foi levado para Coroa Grande. De lá voltou para o Juramento e entrou o ano novo mais solto do que nunca.
Quatro anos depois, o filho de Chileno voltou a ser preso. Por medida de segurança, Escadinha foi levado para o Complexo Frei Caneca, no Centro do Rio. Homens da facção criminosa que integrava, tentaram o resgatar. Para isso tomaram uma estação da Light e promoveram um blecaute na área do presídio. No entanto, a polícia acabou frustrando a fuga.
A morte de Escadinha
No mesmo ano, o traficante conseguiu emprego e o benefício de cumprir pena em regime semi-aberto. Acabou se afastando da facção criminosa que ajudou fundar e chegou a se aproximar de bandidos rivais. Observado de longe pela polícia, alcançou a quase independência financeira, chegando ao posto de vice-presidente de uma cooperativa de táxis da Zona Norte. Foi o início do epílogo da vida de Escadinha. Depois de se recusar a assumir o Morro do Juramento, uma determinação de bandidos que ainda estavam presos, José Carlos dos Reis Encina passou a angariar inimigos.
No dia 23 de setembro de 2004, como fazia todos os dias, Escadinha, então com 49 anos, saiu pela manhã do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, em Bangu, para ir trabalhar. Não conseguiu ir muito longe. Na Avenida Brasil, altura de Padre Miguel, o Vectra que dirigia foi metralhado por tiros de fuzil. Acabava ali a vida do menino que um dia foi o rei do Morro do Juramento. Ao seu lado, no bando do carona, morreu Luciano da Silva Wanderley, que também estava saindo do presídio para ir trabalhar.Até hoje a polícia não descobriu os autores do duplo assassinato.
Lembro bem dele. Uma figura controversa.
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