Mesmo possuindo uma frota de veículos muito inferior à de São Paulo (6,390 milhões contra 2,063 milhões), o Rio de Janeiro, e sobretudo os cariocas, vêm enfrentando um verdadeiro martírio nas vias da cidade. Não por acaso, o Rio ganhou o triste título de terceiro pior trânsito do mundo - atrás apenas de Istambul e Moscou - em recente pesquisa de empresa espanhola. E quando se espera que as autoridades venham à publico se desculpar ou trazer soluções após mais um dia de caos com a saída ou retorno da cidade no feriadão, o prefeito Eduardo Paes limita-se a orientar os motoristas a "voltarem mais cedo para casa", o que significa preterir um dia de descanso. Ao invés de se justificar, o que Paes gosta mesmo é de oferecer possibilidade para empreiteiras e grandes negócios.
O deboche, o descaso, o afronta com que Paes trata a população são típicos de quem governa com arrogância e com total desconsideração por quem mora no Rio, principalmente na Zona Rural e Oeste, onde estão os mais pobres. Um exemplo disso é o gargalo no trecho de quem chega ao Rio da Região dos Lagos. Uma distância de 800 metros, percorrida por estas pessoas muitas vezes em seus modestos carros sem ar condicionado e, por causa do engarrafamento, em 40 minutos a uma hora. Afinal, no aprazível bairro do Alto da Boa Vista, onde fica, cercada por florestas, a Gávea Pequena - que serviu a príncipes e a Presidência da República e hoje é a residência oficial do prefeito, com um verdadeiro Jardim Botânico, piscinas, quadras, que dispensa que seus filhos precisem de uma casa de lazer fora dessa cidade encantada em que vive - certamente o engarrafamento e o calor não fazem parte.
Ao pedir que sacrifique um dia de descanso, Paes afronta o povo do quarto-e-sala, que não sai de casa no feriado simplesmente por um lazer dos endinheirados, mas principalmente por uma necessidade humana, para poder aproveitar raros instantes de descanso com a sua família, nos quais seus filhos possam andar e correr e se esquecer de suas casas de 45 a 70 metros quadrados.
Das 72 horas deste feriadão, os motoristas gastaram pelo menos 10 horas em engarrafamentos - quem foi para a Região dos Lagos, por exemplo, consumiu cerca de cinco horas para percorrer aproximadamente de 200 km. Se eles dormiram seis horas por noite sobraram 44 horas efetivamente para o lazer (três noites, levando-se em consideração a quinta-feira, são 18 horas de sono no feriadão: 72 - 18 = 54. 54 - 10 horas nas estradas - 44h) - o tempo gasto na estrada representa 20% do tempo dedicado ao descanso com a família.
Isso sem contar com o desgaste físico e psicológico nos engarrafamentos - principalmente levando-se em consideração que grande parte da população não tem carros com ar condicionado -, o gasto extra com combustível e com o desgaste das engrenagens dos carros.
Por tudo isso, o que se esperava de Eduardo Paes, depois dos transtornos de quinta e domingo, era um pedido de desculpas, e não a solução de quem lava as mãos e transfere o ônus do problema para a população. Contudo, ele já foi eleito e não precisa mais de votos porque não há terceiro turno. Já está garantido na cadeira de Sua Majestade nas Olimpíadas. Brioches para o povo.
Fonte: Jornal do Brasil
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